Psicóloga dá dicas para pais lidarem melhor com filhos ativos nas redes sociais.
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No primeiro episódio do Programa Vida e Saúde Pra Você, a psicóloga clínica e psicopedagoga, Diana Carolina, fala sobre como as redes sociais podem influenciar na saúde mental de crianças e adolescentes, especialmente nesses tempos de pandemia em que passamos mais tempo em casa do que o de costume e consequentemente mais conectados às redes sociais.
Estudos realizados em 2018, pela agência especializada em mídia social We Are Social, demonstraram que no Brasil 66% da população são usuários ativos das redes sociais e 61% deles acessam por meio de dispositivos móveis. A pesquisa ainda apontou que os brasileiros gastam o total de nove horas por dia na internet e em média quatro horas nas redes sociais.
Os nascidos na chamada “Geração Z”, que são crianças e adolescentes que já cresceram inseridos no contexto de um mundo com amplo acesso à internet, e de modo geral tem acesso às redes socias desde muito cedo, fazem parte da geração que mais sofre com os efeitos negativos da alta exposição à rede.
Sobre a idade em que as crianças poderiam começar a ter acesso às redes sociais, a psicóloga afirma que: “não tem base científica ainda de determinar uma idade ideal”, mas ela propõe que os pais determinem quando os filhos poderão começar a usar as redes sociais: “quando percebem um nível de maturidade” neles. “A gente sabe que a maturidade é uma questão muito peculiar e subjetiva, tem uns que vão amadurecer mais, outros vão demorar um pouco e o pai diante das próprias vivências com os filhos vai tirando as próprias conclusões se esse jovem vai estar preparado ou não”.
A doutora também considera muito importante o diálogo dos pais com os filhos, isso para estipular um horário em que poderão usar a internet e de reafirmar suas responsabilidades fora do mundo virtual. Ela ainda reforça que os pais também devem “buscar alternativas que gerem prazer e bem-estar no contexto familiar”.
Diana ainda ressalta que: durante as férias, os estudos não deveriam ser totalmente excluídos da rotina das crianças para que elas passem o menor tempo possível conectadas, mas relembra: “sabemos hoje que não podemos ficar sem o uso do celular, do notebook, até por questões de trabalho, uso pessoal, então fica inviável ‘eu’ aqui como profissional, dizer para excluir completamente esses recursos”.
O uso das redes sociais fornece aos seus usuários recompensas contínuas que eles não recebem na vida real. A validação ao receber likes, comentários e visualizações, ativa a recepção de um grande volume de dopamina no cérebro, similar ao que acontece com o uso de álcool ou drogas. Então, os usuários acabam se envolvendo cada vez mais na atividade e esse uso contínuo acaba levando a vários problemas interpessoais.
Para a doutora Diana, o vício na internet pode se dar porque essa tem sido “uma válvula de escape” para os adolescentes e também adultos que querem fugir das frustrações no dia a dia. “A internet é um artifício de fuga dessa realidade que muitas vezes é estressante, que é desmotivadora, e dentro da internet muita coisa é permitida, e é aí que mora o perigo. Que a ‘vida real’ se confunde com a vida virtual”, explica a psicóloga.
Um estudo divulgado em 2014, pela Public Health England agência do sistema de saúde público britânico, apontou que crianças que passam muito tempo na internet tem grandes chances de desenvolver problemas de saúde mental. O relatório demonstrou que as crianças que passam mais de quatro horas na rede são as que mais têm propensão a desenvolver problemas como: depressão, solidão, ansiedade e baixa autoestima.
Essa alta exposição das crianças e adolescentes à internet também aumenta o risco de comentários negativos e bullying virtual. Na Inglaterra uma pesquisa publicada em novembro de 2018, pela National Health Service Digital, sobre a saúde mental de crianças e jovens, descobriu que: “uma em cada cinco crianças de 11 à 19 anos havia experimentado cyberbullying no último ano (21,2%). As meninas eram mais propensas do que os meninos a terem sido vítimas de cyberbullying: uma em cada quatro meninas experimentou isso (25,8%), em comparação com um em cada seis meninos (16,7%) […] Menos de um em cem jovens relataram ter sido vítimas de cyberbullying pelo menos uma vez por semana (0,6%)”.
De acordo com Diana, muitos jovens sentem-se “culpados” e “envergonhados” ao sofrer ataques e ameaças nas redes sociais, e para isso a psicóloga alerta para mudanças no comportamento como alterações no humor, alteração de apetite, quadros depressivos e isolamento. Portanto, “qualquer alteração o pai tem que ficar em alerta para conversar e se aproximar desse jovem, para saber o que está acontecendo”, destaca.
Sobre a forma como lidar com os comentários negativos na internet, a psicóloga diz acreditar que: “o melhor a ser feito é muitas vezes ignorar, desativar esses haters”. Além disso, Diana reitera que frequentemente nem mesmo os adultos estão preparados para lidar com críticas na internet, e completa: “quando você posta algo, você é passivo de julgamento externo”.
Para Diana, os pais podem estipular normas e regras para os filhos no ambiente virtual para evitar maiores problemas, pois, segundo ela, “os adolescentes não têm proporção dos perigos que a internet oferece”. Em seguida, a psicóloga esclarece: “hoje em dia pra você entrar nesse meio virtual, nas redes sociais, você tem que ter muita maturidade, autoestima muito boa, e saber ter cuidado”. A doutora também recomenda um maior diálogo dos pais com os filhos para que fiquem atentos aos “sinais de alerta”.