Odontopediatra explica como é importante os primeiros passos para o cuidado com a saúde bucal das crianças
Imagem: Dr. Paula Goretti
Apesar de sermos lembrados constantemente sobre a importância dos cuidados com a nossa saúde bucal, estima-se que de 80 à 90% da população mundial tenha cáries e que seis em cada dez crianças até cinco anos apresentam a doença em ao menos um dente, isso, sem contar com outras doenças bucais como a gengivite, halitose e outros. Além disso, uma pesquisa do Ministério da Saúde também demostrou que cerca de 2,5 milhões de brasileiros nunca tiveram uma consulta com um odontologista.
Os cuidados com os dentes vão muito além da estética. Doenças bucais como a cárie e a gengivite podem levar a diversos problemas como a perda dos dentes e, acredite, até a doenças gastrointestinais e de coração. A boca é um dos lugares do corpo humano que mais possuem bactérias e através dessas doenças que levam a inflamações e a lesões na boca, essas bactérias podem entrar nas vias sanguíneas, instalando-se em outros órgãos do corpo causando graves problemas de saúde como broncopneumonia, insuficiência cardíaca, parto prematuro e até infecção generalizada.
Mesmo com os tratamentos disponíveis atualmente para tratar dessas doenças, o que todos os dentistas concordam é que prevenção é a resposta principal para evitá-los. Devemos começar a cuidar desde cedo da saúde bucal para que isso torne-se um hábito que levaremos até a fase adulta. Conversamos com a odontopediatra Paula Goretti, para entender melhor sobre os cuidados com a higiene bucal das crianças.
Nas palavras da Dra. Paula, a odontopediatria pode ser definida como “uma das especialidades da odontologia que cuida, que promove e trata desde a gestação até a adolescência. Então envolve a gestação, o pré-natal odontológico, a saúde bucal dos bebês, das crianças e dos adolescentes. Lembrando que essa especialidade reúne uma clínica integrada, por que a gente atua tanto na cirurgia, no tratamento de canal, quanto nas restaurações e na prevenção”.
Além das consultas odontológicas durante a gestação para prevenir problemas de desenvolvimento do feto, as visitas regulares à odontopediatra devem começar desde os primeiros meses de vida do bebê, mesmo que não apresente dentição, para orientar os pais sobre os cuidados que devem ser mantidos em casa e avaliar se existem disfunções na amamentação. “Não é só cuidar do dente, é cuidar de um ser. E essa mãe muitas vezes vem sem orientação”, ressalta.
Em alguns casos, a odontopediatra revela que os bebês podem ter anquiloglossia, conhecida como língua presa, uma condição em que os bebês nascem com uma alteração no freio da língua, que resulta em limitações dos movimentos dessa estrutura “atrapalhando a amamentação”. Nesse caso, é necessária uma intervenção cirúrgica para devolver as funções de deglutição, fala e articulação das palavras do paciente.
No caso do dente natal aquele que aparece na cavidade bucal no momento do nascimento do bebê e dente neonatal o dente que aparece na cavidade bucal nas primeiras semanas de vida, a Doutora esclarece que, “muitas vezes, esses dentes são moles, o que provoca o risco do bebê “engolir e sofrer asfixia”. Nesse caso é necessário à extração desses dentes.
Quanto aos os bebês recém nascidos que não apresentam dentição, Paula afirma que evidências científicas mais atuais apontam que “não há necessidade de limpar a boquinha do bebe até os 6 meses na amamentação exclusiva, porque o leite materno já tem o próprio fator de proteção”. Desse modo, apenas após o aparecimento do primeiro dente deve-se começar a escovação com creme dental e escova prescritos por um profissional.
Em casos onde a alimentação do bebê consiste em outros alimentos sem ser o leite materno, Dra. Paula explica que não existe um consenso científico sobre a limpeza da boca do bebê nesse tipo de caso. Por esse motivo, o acompanhamento profissional é importante. “Quando o bebê é acompanhado, a gente que vai identificar se é necessário ou não. E se tiver alguma doença instalada a gente também vai saber agir a tempo”.
Imagem: Dr. Paula Goretti
Para a Doutora, o primeiro passo para o cuidado com a saúde bucal das crianças é o exemplo dos pais, pois eles são a maior referência dos filhos, que aprendem através da reprodução de seus comportamentos. “Habito é uma coisa que a gente só consegue, se executado diariamente. Então, é preciso que o pai supervisione essa higienização e é preciso que ele oriente”, lembra Paula. A recomendação dela é que os pais estimulem a escovação dos dentes três vezes ao dia, especialmente antes de dormir, e que os pais ou cuidadores não recompensem as crianças com doces, dado que o açúcar é um dos principais fatores que desencadeiam a cárie.
Ela ainda orienta que seja feita, em média, uma visita a cada seis meses ao odontologista para exame clinico e para a realização de uma profilaxia. “A profilaxia é uma limpeza que a gente faz com motor rotatório com uma pasta profilática adequada, profissional, e que a gente vai removendo biofilme dental aquela película que fica por cima do dente e que a nossa escovação não é capaz de remover”, explica.
O biofilme dental, ou placa bacteriana, é mais um dos diversos fatores de risco no desenvolvimento de cáries e do tártaro nos dentes. A carie é uma doença multifatorial, ou seja, depende de diversos fatores para desenvolver-se. Restos de alimentos, o consumo excessivo de açúcar e a má higiene, favorecem a formação da placa bacteriana que, por sua vez, utilizam o açúcar como fonte de energia para na produção de ácidos, ocasionando em cáries. A Doutora ainda relembra a importância do consumo de água na prevenção da cárie.
Muitos pais acreditam que os dentes de leite não precisam de tantos cuidados quanto os dentes permanentes pois são dentes temporários, mas eles são tão importantes para a autoestima das crianças quanto para o desenvolvimento dos dentes permanentes. “Dente de leite tem raiz, dente de leite dói, dente de leite tira noites de sono e tem função”, esclarece a Doutora. Uma das principais funções dos dentes de leite é a proteção da arcada dentária da criança. Caso esses dentes caiam antes da hora ou apresentem cáries, o pleno desenvolvimento dos dentes permanentes pode ser prejudicado.
Idealmente, a nossa alimentação não deveria ter adição de açúcares ou produtos industrializados, mas a Dra. Paula recorda que as atribulações do dia a dia requerem que façamos refeições rápidas e muitas vezes não muito saudáveis. Sobre a idade em que as crianças poderiam começar o consumo de açúcares a Doutora diz que “a partir dos dois anos é que a Sociedade de Pediatria aconselha que seja inserido açúcar, mas tudo sem excesso”, finaliza.
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